22 de novembro de 2009

Sonhos - despedida

Tentar compreender os sonhos é uma tarefa que não tem fim. Até agora, no blog, eu só arranhei a superfície deste imenso universo de conhecimentos. Mas, vou parando por aqui, porque tanto eu quanto vocês já entramos no ritmo frenético do final do ano.
Antes de encerrar o assunto, gostaria de fazer alguns comentários sobre uma pergunta que ouço com freqüência: será que os sonhos tem realmente significado, ou são apenas referências a coisas que nos aconteceram durante o dia?
Certa vez, uma paciente que me havia dito que não acreditava em interpretações de sonhos, contou-me que no dia anterior ela tinha discutido com o chefe por que ele não tinha dado a ela permissão para sair do trabalho mais cedo e, à noite, havia sonhado que estava discutindo com ele.
Perguntei a ela porque o sonho havia transformado em imagem esta situação, e não outra qualquer que tivesse acontecido durante o dia. Ela parou, pensou, e revelou que, na adolescência, discutia com o pai toda vez que ele dizia não a alguma coisa que queria, principalmente em relação a horários.
O que o sonho estava dizendo era que ela precisava entender a relação com o pai; isto facilitaria sua relação com o chefe.

Bem, espero vocês o ano que vem, e, até lá, esqueçam suas tristezas e sejam felizes no Natal, no Ano Novo e sempre.

15 de novembro de 2009

Sonhos - ônibus

Um homem de 40 anos, engenheiro, que ocupava um cargo importante em uma multinacional, sonhou que estava num ônibus. De repente, ele se deu conta que o ônibus estava andando em círculos, e que, deste jeito, ele não ia chegar a lugar algum. Desceu do ônibus e continuou a pé. Não soube dizer se chegou a algum lugar. Mas acordou aliviado.

Sonhos em que o sonhador se encontra em um ônibus não são raros. Outra cliente, uma mulher de aproximadamente 30 anos, casada com um homem bem sucedido nos negócios, me contou que havia sonhado que era a cobradora em um ônibus urbano.

Esta mesma mulher, quando havia vindo me procurar, havia me dito que só estava ali porque o marido tinha insistido que ela fizesse terapia. Na opinião dela, quem precisava de terapia era o marido, e não ela. Perguntei por que, e ela me disse que ele não sabia se comportar em sociedade: se vestia mal, ria e falava alto demais em lugares públicos, contava piadas sem graça, etc. Era um vexame.

Vamos começar pelo sonho do homem. Ele já havia me contado que se tornara engenheiro apenas para corresponder às expectativas das pessoas a sua volta. Havia conseguido dinheiro e status, como se esperava dele. Mas, não se sentia feliz. O que ele sempre quisera ser era fazer música.

O ônibus é um veículo coletivo, segue uma rota pré-determinada, que nenhum passageiro tem o poder de mudar. Ele representa as expectativas coletivas, a rota traçada para nós pela sociedade, as expectativas às quais meu cliente sempre havia tentado corresponder. Se quisesse seguir sua própria rota, ele seria obrigado a se desligar destas pressões sociais e seguir a pé, isto é, encontrar o seu próprio caminho.

No caso da mulher, o ônibus representava as expectativas coletivas a respeito do comportamento adequado em uma sociedade bem educada, “chic”, a classe social a qual ela sentia pertencer, e sua frustração com o marido que se comportava como um “grosso”. Eu perguntei a ela se não estava agindo como uma cobradora em sua relação com o marido, e provavelmente com outros. Ela não vivia cobrando deles que se comportassem melhor? Ela ficou perplexa, num primeiro momento, mas depois admitiu que vive “pegando no pé” de todo mundo.

8 de novembro de 2009

Sonhos - carro

Quando sonhamos com um carro, é sempre muito bom prestar atenção em quem está dirigindo. Quem está na direção está simbolicamente ‘dirigindo’ nossa vida, ou nos levando a escolher este ou aquele caminho. Naturalmente, o que nos leva a fazer alguma coisa não é a ‘pessoa’ que dirige, é o aspecto de nós que ela representa ou sua expectativa a nosso respeito – nosso lado infantil, por exemplo. No sonho que contei a semana passada, era uma criança quem dirigia, indicando que a sonhadora estava agindo de maneira infantil na vida.
Ao interpretarmos um sonho não podemos nunca esquecer as associações do sonhador. Tive outra cliente, uma mulher de aproximadamente 50 anos, cujo marido havia pressionado a desistir da universidade e do trabalho, alegando que ela deveria se dedicar exclusivamente a casa. Ela cedeu, e passou a vida tentando satisfazer as vontades do marido, que, à medida que envelhecia, ia se tornando mais exigente. No sonho que me contou, ela ia num carro e seu marido dirigia. Ele começou a entrar em ruelas ameaçadoras, aumentando cada vez mais a velocidade. Ela acordou assustada, com medo de um acidente.
O sonho indicava que era o marido quem estava dirigindo a vida da sonhadora, e que se ela não assumisse a direção poderia, de fato, vir a sofrer um “acidente” psíquico.

Sonhos - carro

Quando sonhamos com um carro, é sempre muito bom prestar atenção em quem está dirigindo. Quem está na direção está simbolicamente ‘dirigindo’ nossa vida, ou nos levando a escolher este ou aquele caminho. Naturalmente, o que nos leva a fazer alguma coisa não é a ‘pessoa’ que dirige, é o aspecto de nós que ela representa ou sua expectativa a nosso respeito – nosso lado infantil, por exemplo. No sonho que contei a semana passada, era uma criança quem dirigia, indicando que a sonhadora estava agindo de maneira infantil na vida.
Ao interpretarmos um sonho não podemos nunca esquecer as associações do sonhador. Tive outra cliente, uma mulher de aproximadamente 50 anos, cujo marido havia pressionado a desistir da universidade e do trabalho, alegando que ela deveria se dedicar exclusivamente a casa.exclusivamente a fam sonhadora, e se ela ner as vontades do marido, que a cada dia exigia mais dela. Ela cedeu, e passou a vida tentando satisfazer as vontades do marido, que, à medida que envelhecia, ia se tornando mais exigente. No sonho que me contou, ela ia num carro e seu marido dirigia. Ele começou a entrar em ruelas ameaçadoras, aumentando cada vez mais a velocidade. Ela acordou assustada, com medo de um acidente.
O sonho indicava que era o marido quem estava dirigindo a vida da sonhadora, e que se ela não assumisse a direção poderia, de fato, vir a sofrer um “acidente” psíquico.

1 de novembro de 2009

Sonhos - Infância

Nem sempre podemos entender o simbolismo da criança nos sonhos verificando o que aconteceu ao sonhador quando a criança nasceu, como vimos no artigo da semana passada. Tive uma cliente de 38 anos, por exemplo, que sonhou que estava com sua mãe num carro dirigido por uma criança de mais ou menos 10 anos, que acabou perdendo o controle batendo contra um barranco. Felizmente ninguém se machucou. A mulher resolveu dirigir, e sua mãe disse que era isto mesmo que ela deveria fazer.
Perguntei a sonhadora o que lhe tinha acontecido há 10 anos atrás, mas ela não conseguiu se lembrar de nada significativo. Então perguntei o que lhe aconteceu quando tinha 10 anos, e ela contou que sua mãe havia adoecido nesta época, e ela havia sido obrigada a tomar conta da mãe e da casa.
Conversando, chegamos a conclusão que ela continuava se sentindo uma menina na direção de uma casa, do marido e dos filhos, e esperando sempre pela aprovação deles. Em outras palavras, ela continuava sentindo toda a insegurança que deve ter sentido quando tinha dez anos de idade. O sonho a estava avisando que era hora de mudar, que se ela continuasse com esta atitude ia bater num barranco, isto é, não iria chegar em lugar algum. Havia chegado o momento de assumir a direção de sua própria vida, sem se preocupar exageradamente com a opinião dos familiares.

25 de outubro de 2009

Sonhos - criança

Nenhuma imagem que apareça em sonhos pode ser interpretada separada da pessoa que a sonhou, assim como não existem interpretações definidas e específicas para qualquer sonho. Existem, porém, imagens que aparecem com bastante freqüência, tais como a queda, a nudez em público, a ameaça indefinida. Uma imagem bastante comum, e que pode assumir vários significados, é a da criança.
Uma mulher de 32 anos, por exemplo, solteira, cuja queixa era a falta de auto-estima, sonhou que estava deitada ao lado de um nenê de mais ou menos dois meses. Ela o cobriu com o seu corpo para protegê-lo. Sabia que se não cuidasse dele, ele poderia morrer.
Para entendermos o que significa esta criança precisamos saber o que aconteceu à sonhadora há uns dois meses atrás, quando a criança deveria ter nascido. Poderia ter sido um novo trabalho, um casamento, um encontro com uma pessoa importante, etc. No caso, dois meses antes do sonho, a sonhadora tinha começado a fazer terapia.
Veja que no sonho, ela protege a criança com o seu próprio corpo. O nenê, no caso, indica que ela está crescendo no processo terapêutico e tem medo de ter uma recaída. Mas a criança não parece estar doente ou correndo qualquer perigo no sonho. Isto pode indicar que, apesar de seus temores, a terapia vai bem e ela tende a continuar crescendo.

18 de outubro de 2009

Sonhos - animais venenosos


Muitas pessoas sonham com animais venenosos, como cobras e aranhas. Isto pode significar muita coisa. Pode, por exemplo, ser um aviso do corpo de que alguma coisa não vai bem, de que algum órgão pode estar em risco. Vou dar um exemplo, um executivo de 53 anos me contou que estava dormindo em seu quarto. “Acordei , e vi que o quarto estava repleto de cobras. Não me apavorei, fui matando uma por uma, só que uma delas me picou e eu acordei.”
Quando somos picados por animais venenosos isto pode indicar perigo real para nosso corpo, um ferimento ou uma doença. O executivo teve um enfarte poucos dias depois deste sonho. Mas é importante verificarmos a atitude da pessoa no sonho. No exemplo, o sonhador não entrou em pânico, foi matando uma por uma as cobras, e mesmo picado, não ficou desesperado, acordou tranqüilo. Ele já tinha tido outros que havia conseguido superar, assim como superou este último.
Outro homem, uns dez anos mais jovem, teve um sonho muito semelhante - ele estava cuidando do jardim, quando, de repente, uma aranha o picou no tornozelo Ele acordou com a sensação que a aranha não era muito venenosa. Alguns dias mais tarde ele teve uma torção no tornozelo. Quando somos picados por um animal venenoso, em suma, é bom atentar para a área atingida, pois a picada pode simbolizar que esta área de seu corpo está em risco.

11 de outubro de 2009

Sonhos - Casa

Certa vez, Jung sonhou que estava no andar superior de sua casa, numa sala de estar muito confortável e agradável, mobiliada no estilo do século XVIII. Curioso, foi até o andar térreo, e encontrou um cômodo mais escuro, com uma mobília pertencente ao século XVI. Desceu ao porão, onde encontrou uma porta que abria para um lance de degraus de pedra, levando-o a uma grande sala abobadada, com paredes de origem romana. Na sala romana encontrou outra porta, que o levou a uma gruta, uma espécie de sepultura pré-histórica.
Quando sonhamos com uma casa, a primeira pergunta a se fazer é de quem é a casa. No caso de Jung, a casa era dele. Assim, ela era um símbolo de sua personalidade, um resumo da sua vida ou, mais especificamente do desenvolvimento de sua mente. Cada andar representava um campo de seu interesse de estudos. Ele vai descendo passo a passo, interessa-se por aquilo que está no porão (o inconsciente), chega a uma gruta, isto é, interessa-se por camadas mais profundas de sua personalidade (o inconsciente coletivo).
Eu tive um paciente que teve um sonho semelhante, mas com um final bem diferente. Na primeira e única sessão que tivemos, ele contou que só veio me procurar porque a sua esposa havia insistido muito, mas que ele, pessoalmente, não acreditava que houvesse nada de errado consigo. Sonhou que estava no andar térreo de sua casa, quando ouviu um barulho vindo do porão Sabia que era sua esposa fazendo alguma coisa. Desceu ao porão, mas não encontrou ninguém, nem mobília, nem objetos, o porão era um vasto espaço vazio. O sonho indicava que não fazia sentido ele fazer terapia, porque se descêssemos ao porão de sua personalidade, ao contrário do de Jung, não encontraríamos nada.

4 de outubro de 2009

Sonhos - Onda

Há alguns anos atrás, uma cliente de 18 anos me contou o seguinte sonho: “Foi horrível. Eu estava sozinha numa praia. Tudo aconteceu muito rápido. De repente, uma onda imensa invadiu a praia, me arrastou, eu me debatia, mas não adiantava. Eu não sei nadar. e acabei morrendo afogada.”
Pouco tempo depois de me contar este sonho ela teve um surto psíquico.
Outra cliente, também mulher, de 45 anos, teve o seguinte sonho logo após a morte de uma grande amiga: “Eu estava numa casa na praia. As paredes da sala eram de vidro. Fiquei apavorada ao ver uma onda imensa invadindo a praia, arrastando os turistas, vindo em minha direção. Não dava para fugir. Mas a onda passou por cima da casa. Graças a Deus, não morri, e a casa não foi destruída.”
Para entendermos o simbolismo da onda é bom lembrarmos que Posídon era o Deus dos Mares. Quando ficava furioso, criava ondas imensas que invadiam e destruíam cidades inteiras. O mar, simbolicamente, representa o inconsciente, e as ondas imensas, os impulsos e sentimentos violentos que vem do inconsciente.
A primeira sonhadora, que, por várias razões, não tinha condições psíquicas para lidar com a situação que estava vivendo, foi arrastada pela onda. A onda, uma carga pesada saída das camadas mais profundas do inconsciente, submergiu seu ego, e ela “morreu afogada”.
No caso da segunda sonhadora, a morte da amiga despertou medos e fantasias de morte até aí escondidas nos recessos de seu inconsciente, e ela chegou bem perto de entrar numa depressão profunda (ser arrastada pela onda), mas, como sua estrutura psíquica (simbolizada pela casa) era mais sólida, conseguiu superar a crise.
Vejam que ambas foram ameaçadas por uma onda imensa, uma invasão do inconsciente, mas somente uma delas teve estrutura para lidar com a situação. E assim mudar o final da história.

27 de setembro de 2009

Sonhos

Muitas pessoas, quando começam a fazer terapia, imaginam que o terapeuta tenha uma espécie de lista pronta de problemas e suas respectivas soluções, adquirida na faculdade e desenvolvida durante sua experiência no consultório. Imaginam que o psicólogo sabe exatamente o que vai dizer no processo terapêutico para os livrar de sua angústia. Mas não é assim que acontece. Cada pessoa é uma pessoa, e não há um remédio único. Para um terapeuta junguiano, são principalmente os sonhos que vão mostrar que obstáculos terão de ser enfrentados na terapia e mostrar o caminho para uma solução satisfatória. Os sonhos, quando interpretados corretamente, nos ajudam a tomar as decisões mais adequadas diante dos problemas que nos confrontam.
No dia em que tive a idéia de dedicar meu blog à interpretação de sonhos, por exemplo, tive o seguinte sonho:
“Era noite. Algumas pessoas e eu caminhávamos por uma estrada de onde se avistava um cidade sobre uma colina. A cidade não parecia uma cidade moderna , era estranha e mágica como um burgo da Idade Média. Eu lembro que comentei com a pessoa que caminhava a meu lado que já havia visto aquela cidade, mas que, da outra vez, eu a tinha visto sob outro ângulo.”
Pensando sobre este sonho, cheguei à conclusão de que esta cidade representava o mundo dos sonhos. Ela era familiar, é claro, já que meu trabalho diário inclui analisar os sonhos de meus clientes. Acredito que o inconsciente estava me dizendo que, ao tomá-los como tema do blog, me permitiria estudar este mesmo universo sob um novo ângulo.
Comecei a anotar meus sonhos aos 21 anos, quando inicie minha terapia. Hoje ao lê-los, e ao ouvir os sonhos de meus pacientes, ao estudar a interpretação de sonhos na literatura junguiana, vejo que há temas que se repetem, e gostaria de analisar alguns destes com vocês. Você está convidado(a) a fazer este passeio através do mundo dos sonhos comigo, um tema por vez, aos domingos.

14 de junho de 2009

Métis

Muito antigamente, Métis era a deusa da sabedoria feminina. A sabedoria feminina é diferente da sabedoria masculina - ela não brota apenas do raciocínio ou da lógica, mas envolve sentimento e intuição além de pensamento. Quando Zeus, o novo e todo poderoso senhor do Olimpo, no entanto, teve seu caso com Métis, a velha religião já havia sido abandonada, e ela já era vista como uma deusa arcaica, menor, quase esquecida.
Porém havia uma profecia, anterior à chegada de Zeus, que dizia que ele teria dois filhos com Métis, uma menino e uma menina, e que o filho destronaria o pai. Por isto, quando engravidou Métis, Zeus a encolheu e engoliu, evitando assim ser destronado. Alguns meses mais tarde, a deusa Atena nasceu da cabeça de Zeus.
A partir daí, a sabedoria feminina foi desvalorizada, e em seu lugar surgiu a supervalorização do lado racional. Vemos isto acontecer nos dias de hoje. A mulher é treinada a agir de forma prática e racional. Aprende que não é adequado expressar seus sentimentos, e suas intuições são consideradas fantasias sem fundamento.
Antigamente, quando alguém se desabafava com uma mulher, o que se esperava dela era compreensão, sensibilidade, um abraço gostoso, carinho. Hoje, o que se espera dela é que apresente soluções práticas para o problema: onde ir, o que fazer, quem procurar, etc. Parece que o abraço e o carinho se tornaram desnecessários.
Será que o filho de Zeus não deve nascer mesmo? Afinal, ele seria fruto da união da sabedoria feminina e masculina. Porque não recuperar Métis dentro de nós, reagir diante das situações que se apresentam no dia a dia fazendo uso de nossa sabedoria feminina, a qual ainda vive dentro de todas nós, isto é, o que manda o coração (sentimento) e respeitando nossas intuições, além do pensamento?

7 de junho de 2009

Mulher Sêmele

Zeus, o Senhor do Olimpo, estava tão apaixonado pela mortal Sêmele, e tão feliz ao saber que ela estava grávida, que disse a ela que pedisse qualquer coisa, que ele realizaria seu desejo. Sêmele pediu a Zeus que ele se mostrasse a ela em todo o seu esplendor. Zeus sabia que, se aparecesse em toda sua glória a um mortal, este não poderia suportar a visão, mas, como um deus, não podia deixar de cumprir sua promessa. Fez o que Sêmele pediu, e ela, diante de tanta luz, não resistiu e morreu queimada. Zeus retirou o feto que Sêmele carregava no ventre e colocou-o em sua coxa, onde a criança terminou de ser gestada. Este bebê era Dionísio.
A mulher Sêmele é aquela que anseia pelo infinito, por entender a verdade oculta por trás do universo. Este anseio pode levá-la a se interessar por religião, pela busca da verdadeira espiritualidade, pela astronomia ou pela astrologia, desejando compreender os mistérios do universo. Ou, alternativamente, pode se envolver com drogas, procurando viver realidades além da rotina de uma vida comum, pela arte em todas suas formas, pela música, que nos leva a outras esferas, ou por qualquer atividade que tenha por objetivo ir além dos limites do humano.
Quando penso na mulher Sêmele eu me lembro de Janes Joplin, que acabou queimada como Sêmele em sua entrega radical à música e às drogas, ou de Virginia Wolf, a grande escritora que buscava romper as convenções de sua época e acabou se suicidando. Nesta busca da compreensão de tudo que vai além da realidade material, a mulher- Sêmele corre o risco de ficar dependente de drogas, ou transformar-se numa fanática, ou cair na depressão e morrer jovem. Para que isto não aconteça é necessário que ela reconheça seus limites como ser humano, e que canalize sua energia criativa, esta enorme energia espiritual que leva dentro de si.

31 de maio de 2009

O Homem Aquiles

Uma profecia antiga dizia que os gregos somente venceriam a guerra de Tróia se Aquiles lutasse a seu lado; mas que, se entrasse na guerra, morreria.
Aquiles era filho de uma deusa, Tétis, e de um mortal, Peleu. Quando criança foi mergulhado num rio pela mãe, o que o tornou invulnerável no corpo inteiro, exceto no calcanhar, por onde Tétis o segurara quando mergulhara na água sagrada. A glória no campo de batalha atraía Aquiles, mas a vontade de viver era maior. Quando a Guerra de Tróia estourou, apoiado pela mãe imortal, decidiu fugir do recrutamento. Disfarçou-se de mulher e escondeu-se entre as damas da corte. Quando os líderes gregos chegaram ao castelo onde ele vivia, encontraram apenas um bando de mulheres. Aquiles havia sumido. Desconfiado, Odisseu usou de uma artimanha – mandou tocar o alarme como se a cidade estivesse sendo atacada e, quando uma das donzela, ao invés de esconder-se, correu para as armas, arrancou o véu que cobria a “donzela” e desmascarou Aquiles.
Já no Porto de Áulis Aquiles ficou indignado com Agamenon, que usou seu nome para enganar Ifigênia. Mas a briga entre os dois ficou mais séria quando Aquiles se sentiu injustiçado por Agamenon na divisa de bens provenientes do saque ao templo de Apolo. Discutiram tanto, que Aquiles resolveu retirar a si e seus exércitos da guerra.
Um dia, porém, Aquiles recebeu a notícia de que seu grande amigo Pátroclo havia sido morto pelos troianos e voltou para a guerra, lutando ferozmente e matando um grande número de inimigos, preparando assim a vitória dos gregos.
Porém o herói troiano Paris atingiu com uma flecha o calcanhar de Aquiles, seu único ponto vulnerável, e Aquiles morreu.
O homem Aquiles é aquele que anseia pela glória, pela fama, e vence agindo por impulso. Ele se realiza principalmente em atividades corporais, como a prática do esporte, e aqueles que trazem fama, como cinema, teatro, televisão, etc. Um bom exemplo são os corredores de Fórmula 1, os pilotos de teste, pessoas que arriscam sua vida ou se expõe ao perigos em busca da fama, da perfeição, de correr mais rápido, pular mais alto, fazer algo que nunca foi feito por ninguém.
Ele é leal ao pessoal de sua equipe, a todos aqueles que lhe dão apoio, mas costuma bater de frente com seus superiores, por não querer se submeter a um sistema que ele considera injusto.

17 de maio de 2009

A mulher Atalanta

A mulher Atalanta é aquela perfeitamente capaz de competir em pé de igualdade com os homens, vive focada em sua carreira profissional, e não tem tempo para o lazer e o amor.
Atalanta era uma princesa grega que se deleitava em caçar e vencer seus companheiros de jogo nas corridas que disputavam. Vivia como se fosse continuar jovem, livre e aventureira para sempre. Seu pai, que tinha a esperança de deixar seu reino para um neto, insistia que ela se casasse, mas ela não queria nem pensar nisso. Até que um dia, cedendo a persistência paterna, aceitou a idéia de se casar, mas com a condição de que seu pretendente a vencesse numa corrida.
A mulher Atalanta não está interessada, nem tem tempo para investir em sua vida pessoal. Mas, chega um momento, em que cede as pressões sociais e decide se casar, mas desde que seja com um homem que se mostre mais forte do que ela, não tolera homens fracos. Ela se casa, e seu casamento torna-se uma competição: quem ganha mais, quem é promovido primeiro, quem dá as ordens, etc. O casal não percebe que é necessário que queiram vencer juntos e não um ao outro.
No mito, certo dia, apareceu um jovem príncipe, Hipomenes, no palácio do rei e apaixonou-se por Atalanta. Hipomenes não era tolo. Sabia que não tinha chance alguma de vencê-la na corrida. Sem saber o que fazer, resolveu ir ao templo de Afrodite, a deusa do amor, e pedir sua ajuda.
Afrodite deu três maçãs de ouro a Hipomenes e mandou que aceitasse o desafio de Atalanta. Explicou ao rapaz que, durante a corrida, devia jogar as maçãs, uma por vez, no caminho de sua amada.
Hipomenes jogou a primeira maçã, Atalanta não resistiu, deu uma parada, pegou a maçã, e viu sua própria imagem refletida no metal polido, percebeu que estava envelhecendo. Ele jogou a segunda maçã, e nela Atalanta viu a imagem de um antigo namorado. Quando Hipomenes jogou a terceira maçã, ela sabia que se parasse para pega-la, ela perderia corrida. Não resistiu a curiosidade, e viu na maçã a imagem de uma criança.
A mulher Atalanta para se realizar na vida pessoal, precisa perceber a importância de aproveitar a vida enquanto é tempo. Ela precisa renunciar a vencer a corrida, perceber que nem tudo na vida é uma competição, e que amar e ser amada também é muito importante.
Na corrida do dia a dia, a mulher Atalanta desaprende a ser criança, ao relaxar sente-se culpada, pois poderia estar fazendo algo útil. Obcecada pela questão “o que devo fazer?” ela esquece de se perguntar “o que quero fazer”

10 de maio de 2009

Deuses x Mortais

Ifigênia é sacrificada pelo próprio pai, Agamenon; este, por sua vez, é assassinado pela esposa Clitmenestra; Orestes, o filho do casal, mata a mãe para vingar o assassinato do pai - não surpreende que minha amiga Rosa mande um e.mail perguntando se isto é mitologia ou tragédia grega. Sim, Rosa, bem observado - isto é tragédia grega. Ou pelo menos o material utilizado por Sófocles e Eurípedes para escrever suas tragédias. Uma pessoa menos culta que Rosa teria falado de “novela mexicana”. O pior é que isto, esta violência em família, este derramamento de seu próprio sangue, acontecia na Grécia Antiga e continua acontecendo nos dias de hoje – basta assistir ao noticiário das oito ou a algum programa do tipo “Cidade Alerta” para nos convencermos disto. E, no ambiente protegido de um consultório de terapia, ouvimos histórias parecidas, porém nas quais o “sacrifício” de filhas e filhos, o “assassinato” de maridos ou esposas, se dá a nível simbólico. Mais frequentemente do que eu gostaria de admitir.
Esta tragédia vem nos mostrar o perigo de nos dedicarmos exclusivamente a busca de status, crescimento financeiro, poder, e esquecermos de cuidar de nossa vida pessoal, de nossos sentimentos, e das relações com aqueles que nos são próximos.
Gostaria porém de tranqüilizar minhas leitoras, chocadas com tanta violência – muitas histórias que pretendo contar têm final feliz.
Rosa também me pergunta qual a diferença simbólica entre deuses e mortais no mito grego. A resposta é complicada, já que o culto dos antepassados, o culto dos heróis e o culto dos deuses se misturavam na cultura grega. Mas, de um modo geral, os deuses tem um significado mais universal. Por exemplo, a deusa Core é a representação do que ocorre (a nível simbólico) com toda mulher na adolescência. Já Ifigênia também é uma adolescente, mas sua história é menos abrangente: o que acontece a Ifigênia só pode acontecer a uma menina cujo pai sacrifique a família em prol de seu próprio engrandecimento. Core, além disto, é emocionalmente mais ligada à mãe (um comportamento “natural” de identificação), enquanto Ifigênia é uma “filha do pai” em uma família na qual a mãe apenas aceita passivamente todas decisões tomadas pelo pai. Clitmenestra acabou se revoltando, é verdade, mas já era tarde demais, e Ifigênia estava morta.

3 de maio de 2009

Mulher Clitmenestra

A mortal Clitmnestra e a deusa Hera tem muito em comum. Ambas se casaram com reis poderosos. Da mesma maneira a mulher Clitmnestra e a mulher Hera na vida real são atraídas, e frequentemente casam com homens em posição de poder: empresários, comerciantes, profissionais bem sucedido, políticos. Casam com homens poderosos porque são eles que podem oferecer a elas um reino. Quando se casam com um homem que não ocupa nenhuma função importante, elas reconhecem nele o potencial para adquirir status e crescimento financeiro. Juntos criam um reino: compram casa, carros, constroem um patrimônio.
Tanto Hera quanto Clitmnestra infelizmente foram traídas pelos maridos. Mas, enquanto Zeus traía Hera com suas amantes, Clitmnestra foi traída de forma muito mais cruel quando Agamenon a enganou e fez sacrificar a filha Ifigênia. O destino de Clitmnestra foi muito mais trágico do que o de Hera para se vingar do marido pelo assassinato de sua filha Ifigênia, Clitmnestra além de se ligar a um amante, assassinou Agamenon, assim que ele voltou de Tróia. Seu final foi igualmente trágico – morreu assassinada pelo seu filho Orestes.
A mulher que leva dentro de si o arquétipo de Clitmnestra pode se sentir traída pelo marido quando este “mata” os filhos, isto é, é um pai omisso, ausente, causando danos psicológicos profundos na psique dos filhos. Muitas vezes, os homens poderosos negligenciam sua família por que os negócios, as viagens, os compromissos, não lhe deixam tempo para dedicar a família. A mulher Clitmnestra pode “matar” o marido dentro dela, desenvolver uma indiferença, hostilidade, e mesmo ódio ao homem com quem se casou, muitas vezes, por amor. Este é o perigo que ronda o homem Agamenon, o de sacrificar seus sentimentos (Ifigênia), seu lado feminino (Clitmnestra), e se destruir neste processo.

26 de abril de 2009

Mulher Ifigênia

Como vimos, Agamenon estava com suas tropas no porto de Áulis, pronto para partir para a guerra de Tróia, quando os ventos pararam de soprar. Um oráculo foi consultado, e revelou que, para que os ventos voltassem a soprar, Agamenon deveria sacrificar sua filha Ifigênia. Agamenon ficou conflituado, mas acabou por decidir que a vitória na guerra era mais importante do que a vida da filha. Mandou uma mensagem para sua esposa, Clitmenestra, mandando que ela levasse Ifigênia ao porto para se casar com o grande herói Aquiles. Quando as duas chegaram ao porto de Áulis e descobriram que haviam sido enganadas, Clitmenestra ficou revoltada. Ifigênia parece ter aceito seu destino.
Ser filha de um pai que dá mais importância ao trabalho que à família não é fácil. Quando esse pai acredita em valores patriarcais e não valoriza a mulher, como Agamenon, a situação é ainda pior.
É comum que a filha idolatre o pai durante a adolescência. Quando este não lhe dá atenção, não acredita que ela possa tomar suas próprias decisões, e tornar-se independente, ela fica deprimida. Nesta fase, isto pode facilmente levar a filha a sofrer de falta de auto-estima e nutrir fantasias de morte.
Há uma versão do mito que conta que, no momento em que Ifigênia ia ser sacrificada, a deusa Ártemis a transformou-a numa corça, transportou-a para longe dali e a transformou em sua sacerdotisa. Porém há outra versão em que Ifigênia é sacrificada, os ventos voltam a soprar, os navios partem para Tróia e a morte de Ifigênia fica por isto mesmo.
A filha de um pai Agamenon, para não ser sacrificada, precisa conquistar sua independência por conta própria. Ela precisa se tornar uma sacerdotisa da deusa caçadora Ártemis, uma mulher-Ártemis, isto é, uma mulher que se respeita e é respeitada, de lutar por aquilo que quer, capaz de alcançar seus objetivos. Quando tem a má sorte de ter um pai que não a valoriza, a mulher precisa aprender a se valorizar e a crescer por conta própria.

19 de abril de 2009

Homem Agamenon

Na mitologia grega, Agamenon era o rei de Micenas, a maior e mais poderosa cidade grega na época da Guerra de Tróia. Como líder de todos gregos, e irmão de Menelau, o marido traído de Helena, foi ele quem liderou o exército grego durante a guerra contra Tróia.
O Homem Agamenon é um homem acostumado ao mando. Ele pode ser o executivo, o empresário, o profissional autônomo, mas é sempre aquele homem que vive em função do trabalho e não tem tempo para a vida pessoal. Aquele que vive adiando viagens de férias com a família, porque na hora sempre aparece algo importante para resolver. Ele chega em casa sério, preocupado, e presta pouca atenção às pessoas que estão em sua volta. Sua cabeça está em “assuntos mais sérios”.
Quando estourou a guerra de Tróia, Agamenon, como rei de Micenas, reuniu no porto de Áulis os barcos que levariam as tropas gregas até Tróia. Estavam todos ansiosos para zarparem, mas os ventos não sopravam e os barcos ficaram imobilizados. Agamenon ficou sabendo através dos sacerdotes que quem impedia a saída dos navios era a deusa caçadora Ártemis, indignada por que Agamenon, que havia feito sacrifícios para os deuses pedindo sua proteção, havia se esquecido de fazer uma oferenda à ela. Ártemis só permitiria a partida dos barcos se a filha de Agamenon, Ifigênia, fosse sacrificada.
Em geral, o homem Agamenon moderno também não faz oferendas à mulher Ártemis, isto é, ele não valoriza a mulher independente, auto suficiente, que luta pelos seus direitos. Ele age como um patriarca que “tolera” o poder da mulher, mas, na verdade, não o respeita.
O homem que age como um “soberano” tende a sacrificar seu lado feminino, reprimir sua sensibilidade e sentimentos, e consequentemente tende a sacrificar sua vida pessoal. Entre as solicitações da família e amigos e o trabalho, ele sempre faz a opção pelo trabalho.
Agamenon sacrificou a filha, os navios puderam partir, e venceu a guerra. No entanto quando voltou para casa, sua esposa Clitmenestra, que jamais havia perdoado Agamenon por ter sacrificado a filha, o matou.
Assim como na Grécia antiga, o homem Agamenon é visto como um vencedor na sociedade moderna, cresce profissional e financeiramente, adquire status, mas quando a guerra termina, quando chega o momento de parar e ele volta para casa, encontra uma mulher amargurada e vingativa, uma filha “morta”, isto é, uma filha sem auto estima e frágil, e percebe que não tem valor para os seus entes queridos.