10 de maio de 2009

Deuses x Mortais

Ifigênia é sacrificada pelo próprio pai, Agamenon; este, por sua vez, é assassinado pela esposa Clitmenestra; Orestes, o filho do casal, mata a mãe para vingar o assassinato do pai - não surpreende que minha amiga Rosa mande um e.mail perguntando se isto é mitologia ou tragédia grega. Sim, Rosa, bem observado - isto é tragédia grega. Ou pelo menos o material utilizado por Sófocles e Eurípedes para escrever suas tragédias. Uma pessoa menos culta que Rosa teria falado de “novela mexicana”. O pior é que isto, esta violência em família, este derramamento de seu próprio sangue, acontecia na Grécia Antiga e continua acontecendo nos dias de hoje – basta assistir ao noticiário das oito ou a algum programa do tipo “Cidade Alerta” para nos convencermos disto. E, no ambiente protegido de um consultório de terapia, ouvimos histórias parecidas, porém nas quais o “sacrifício” de filhas e filhos, o “assassinato” de maridos ou esposas, se dá a nível simbólico. Mais frequentemente do que eu gostaria de admitir.
Esta tragédia vem nos mostrar o perigo de nos dedicarmos exclusivamente a busca de status, crescimento financeiro, poder, e esquecermos de cuidar de nossa vida pessoal, de nossos sentimentos, e das relações com aqueles que nos são próximos.
Gostaria porém de tranqüilizar minhas leitoras, chocadas com tanta violência – muitas histórias que pretendo contar têm final feliz.
Rosa também me pergunta qual a diferença simbólica entre deuses e mortais no mito grego. A resposta é complicada, já que o culto dos antepassados, o culto dos heróis e o culto dos deuses se misturavam na cultura grega. Mas, de um modo geral, os deuses tem um significado mais universal. Por exemplo, a deusa Core é a representação do que ocorre (a nível simbólico) com toda mulher na adolescência. Já Ifigênia também é uma adolescente, mas sua história é menos abrangente: o que acontece a Ifigênia só pode acontecer a uma menina cujo pai sacrifique a família em prol de seu próprio engrandecimento. Core, além disto, é emocionalmente mais ligada à mãe (um comportamento “natural” de identificação), enquanto Ifigênia é uma “filha do pai” em uma família na qual a mãe apenas aceita passivamente todas decisões tomadas pelo pai. Clitmenestra acabou se revoltando, é verdade, mas já era tarde demais, e Ifigênia estava morta.

2 comentários:

Nath disse...

Cecília!! Voltei!! Escapei do mundo das trevas e estou voltando para a vida real, hehe. E fico muitíssimo feliz que você também tenha voltado!! Sentia falta dos seus textos, que eu lia religiosamente todas as segundas-feiras... (aproveito para deixar aqui o meu protesto, que você deveria escrever com mais frequencia, mas entendo que deve ser impossível pra você!). Ah, e adorei o assunto deste blog! Não que os deuses em geral não me interessem, pelo contrário. Mas o tema "mulheres" tem sempre um gostinho especial pra mim! Quem sabe um dia poderei contribuir com alguma coisa, hehe. Um grande beijo!! Nathália

Mi disse...

Tragédia Grega, novela Mexicana, enfim esterótipos que reconheço em cada história verídica como vc escreveu.
Suas histórias me fazem pensar que nunca devemos estar ligados a apenas um esterótipos e sim a vários, buscando principalmente as qualidades deles, a garra de Artêmis, a delicadeza de Afrodite, a força de Hera...
Enfim, somos mortais com características imortais.
Beijão enorme