6 de julho de 2008

O mito e o mundo moderno

O mundo competitivo em que vivemos não nos deixa tempo para nada. Quando não estamos empenhados em trabalhar, ganhar dinheiro, adquirir status, ou simplesmente garantir nossa sobrevivência, temos pepinos para resolver, contas a pagar, compras a fazer, o carro para levar para revisão, um aniversário ou casamento ao qual não podemos faltar. No dia-a-dia, nossa atenção é disputada por um dilúvio de informações que nos ataca de todos os lados - da TV, da internet, dos outdoors, dos jornais, etc, etc; e no meio de toda esta agitação, esquecemos de nosso maior desejo – o de sermos compreendidos e amados pelos que nos são próximos.
O anseio por ser aceito, amado, valorizado está profundamente enraizado na psique humana. Somos animais sociais – não sabemos viver sozinhos. Mas para sentir-se integrado a um grupo, precisamos também compreender os que nos cercam. Um instrumento valioso para conhecer a si mesmo e compreender os outros é, você pode não acreditar, o mito. Mas o que é que nós, cidadãos do século XXI , temos a aprender com os antigos, com povos que viveram e morreram há milhares de anos atrás?
Viver uma vida humana, seja na cidade de São Paulo ou nas cavernas, é passar pelos mesmos estágios da infância à maturidade; é sofrer a mesma transformação da dependência da infância em responsabilidade adulta, é lutar pela sobrevivência, vivenciar o casamento e a decadência física, a perda gradual das capacidades na velhice e, finalmente, enfrentar a morte.
Os mitos nos contam como outros seres humanos lidaram com estas questões, nos dando pistas de quem somos e para onde nossas atitudes estão nos levando.
Para os gregos, por exemplo, assim como para nós, derramar o próprio sangue, matar um familiar, era o mais hediondo dos crimes. O culpado de um crime assim não podia ser perdoado nem pelos deuses e sofria uma punição mais terrível do que aquela reservada aos outros assassinos – o tormento pelas Fúrias. As Fúrias eram monstros alados, com cabelos de serpentes, cuja função era não dar um minuto de paz aos culpados deste tipo de crime. Não foi isto mesmo que aconteceu no caso que chocou o Brasil recentemente, o assassinato da menina Izabela pelo próprio pai? Quem acompanhou o caso pela TV, e viu a multidão cercando a casa do assassino, disposta a linchá-lo a qualquer preço, pode ver, com seus próprios olhos, o pai-assassino sendo atormentado sem dó nem piedade por estas Fúrias modernas, a imprensa e a opinião popular.

Um comentário:

Nath disse...

Sabe onde encontramos muita (mas muita!) coisa interessante sobre o mundo moderno? Nos livros História da Vida Privada (da Europa e do Brasil)! Nos últimos volumes, que tratam a história contemporânea. E eles são uma leitura deliciosa... E nos fazem entender uma série de comportamentos que temos, e nunca havíamos parado pra pensar porquê!