26 de outubro de 2008

O momento da Paixão


Quando estamos apaixonados nos sentimos plenos, saciados, nada mais importa além do nosso amante-amado, as pessoas à nossa volta parecem não ter importância, nos afastamos da família, dos amigos, não queremos perder nenhum instante com o ser amado, as horas que passamos juntos são ardentemente esperadas e mágicas. No mito grego, é a história de Eros e Psiquê que nos fala, simbolicamente, destes momentos mágicos da vida.
Quando Psiquê casou com Eros, sem conhecê-lo, como era comum na antigüidade, foi levada pelo deus dos ventos a um castelo. Psiquê foi carregada pelo ventania – uma bela imagem simbólica de como somos “irresistivelmente arrastados “ pela paixão. No castelo, empregados invisíveis lhe serviram pratos e bebidas divinas. Na escuridão da noite surgia Eros e se amavam. Os dias se passaram. Eros surgia de madrugada e partia antes do sol nascer. E as horas que passavam juntos eram “ardentemente esperadas e mágicas”. Mas Psiquê queria ver Eros de corpo inteiro, à luz do dia. Eros, porém, avisou-a de que ela não podia vê-lo inteiro pois o encanto acabaria.
Aparentemente Psiquê tinha tudo o que queria, vivia num castelo, comia, bebia o que desejava, tinha um amante apaixonado. Da mesma maneira nos sentimos plenamente realizados quando somos correspondidos. Mas, um dia Psiquê começou a sentir falta de outras pessoas, percebeu que por mais que amasse Eros não poderia passar a vida inteira adorando-o. Sentiu saudades das irmãs, e as convidou para visitá-la. Quando elas viram o castelo onde Psiquê morava, ficaram roxas de inveja da felicidade de Psiquê. Queriam ver Eros, é claro, e quando Psiquê respondeu que não poderiam vê-lo, as irmãs lembraram Psiquê que o oráculo que havia previsto seu casamento, previra também que ela iria casar com um monstro. Será que era por isto que Eros jamais se mostrava à luz do dia? Psiquê ficou perturbada e, à noite, fez o que suas irmãs haviam sugerido: deixou uma faca ao lado da cama e esperou que Eros pegasse no sono, pronta a matá-lo se ele fosse, de fato, um monstro. Acendeu a luz do lampião, e ficou tão extasiada ao ver a beleza de Eros, o deus do amor, que deixou cair o óleo quente sobre as asas de Eros. Ele acordou com a dor, agoniado, e voou para longe - o castelo e tudo que havia em torno de Psiquê se desfez como um sonho.
Isto acontece, de uma maneira ou de outra com todos os apaixonados. Certo dia, o encanto da paixão termina. Sentimos vontade de rever os amigos, a família, parece que apenas o amante-amado já não é mais suficiente para sermos felizes. Começamos a dar ouvidos às fofocas, aos comentários negativos sobre nosso companheiro-namorado-noivo, sentimos necessidade de verificarmos se ele é, realmente, perfeito, ou se estamos sendo enganadas.
Ao acendermos a luz, isto é, quando começamos a enxergar o outro tal como ele é, podemos, de fato, nos decepcionar, descobrir que o amado-amante não é nenhuma das duas coisas, e o relacionamento pode terminar neste momento. Porém é preciso ter cuidado pois o amado-amante pode realmente ser o homem de nossa vida, como Eros se tornou o amante eterno de Psiquê. Se o outro é, realmente, a pessoa que desejamos, é hora de iniciar um verdadeiro e duradouro relacionamento amoroso. Que, ao contrário da paixão, pode durar para sempre.

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